A Rua da Boavista

«Houve no Porto pelo menos três ruas da Boavista: A terceira e última, objecto desta nótula, é a extensíssima artéria que se inicia no Campo de Santo Ovídio (hoje Praça da República) e se foi sucessivamente prolongando com as designações de Rotunda e de Avenida, até ao Castelo do Queijo, na Foz do Douro, limites de Matosinhos. Tomou esta designação porque se fez em terrenos pertencentes à Quinta da Boavista.»76

Aos inícios do século XIX, a Rua da Boavista fazia parte de uma zona que pertencia à burguesia portuense. Já uma parte da planta de 1813 de George Balck, a rua mostra-se rodeada, ao sul, por uma quinta, a dos Bragas (a que mais tarde tornar-se-ia a Rua dos Bragas), ao leste, pelo Campo de Sto. Ovídio (hoje é a Praça da Liberdade), ao oeste, pela Rua de Cedofeita e ao norte, por algumas ruas alinhadas de árvores. A julgar pelo desenvolvimento escasso ao redor da Rua da Boavista naquela altura, é evidente que ela faz parte da expansão novecentista da cidade.

 

 


Uma casa novecentista que alojava uma familia burguesa mas agora fica abandonada. Foi o interior de uma das salas que me chamou a atenção,
com a sua elegante e esquecida decoração do tecto.


 


Duas casas da Rua da Boavista, números 169 e 189. Não consegui descobrir os anos da sua construção,
mas acredito que fossem construídas na primeira ou segunda década do século XX, devido aos registos
de licenças de obras que referem a estas casas, tais como um pedido de Setembro de 1910:
“retirar peitoril, caiar e pintar”, e outro de Janeiro de 1911: “Habitação: Acrescentar andar”. 81

 

A documentação no Arquivo Histórico referente às edificações nessa rua começa aparecer apartir de 1820, embora existam muitos registos sem a data indicada, provavelmente sendo anterior a esse ano. Um destes, datado do 1 de Janeiro de 1824, trata-se de «documentação referente a uma casa a edificar na R. Da Boavista, contigua à nova fonte. Projectada por: Joaquim da Costa Lima Sampaio. Requerente: António Rodrigues de Azevedo.»77 A autoria do edifício é outra indicação do prestígio do bairro novo; o arquitecto Sampaio também foi responsável do palácio dos Carrancas e outros edifícios construídos ao estilo neopalaciano (um estilo que é resultado da influência inglesa sobre a arquitectura portuguesa dos séculos XVIII e XIX). 78

A Avenida da Boavista, mais longa e talvez melhor conhecida da rua homóloga, foi projectada em 185579 mas só se abriu nos finais do século XIX, os registos mais antigos a se datarem a partir de 1890.80 Hoje, a Rua e a Avenida da Boavista definem-se por ser vias comerciais mais do que residenciais. Muitas casas foram demolidas no século XX para criar espaço para os hotéis, as lojas e os apartamentos, às vezes criando um visual anacronística, como no caso do estacionamento moderno do Hospital Militar D. Pedro V, justo ao lado de duas casas desmoronadas. Apesar destas e outras cenas semelhantes, esta via larga ainda retém muito do seu carácter original.


A Rua da Boavista, vista desde a
Praça da República. Na distância,
vê-se o monumento que marca a
transição para a Avenida da Boavista.

 
A grandeza da porta principal e do balcão de n° 169. Esta beleza
arquitectónica constrasta-se com a vegetação que cresce, à toa,
dentro do edifício.


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Notas

76 "História das Ruas," Câmara Municipal do Porto <http://www.cm-porto.pt/pagegen.asp?SYS_PAGE_ID=457630&id=558>
77 Série de plantas de casas, Arquivo Histórico Municipal do Porto, Livro I de plantas de casa, fl 200. 1824.1.30 BOAVISTA, Rua de.
78 Ramos, Luís Oliveira, ed., História do Porto (Porto: Porto Editora, Lda., 1995), 381.
79 "História das Ruas," Câmara Municipal do Porto <http://www.cm-porto.pt/pagegen.asp?SYS_PAGE_ID=457630&id=5>
80 Série de plantas de casas, Arquivo Histórico Municipal do Porto.
81 Série de plantas de casas, Arquivo Histórico Municipal do Porto, Livro I de plantas de casa, vol 250, f. 66-70. 1910.10.04 BOAVISTA, Rua de.
78 Ramos, Luís Oliveira, ed., História do Porto (Porto: Porto Editora, Lda., 1995), 381.

Bibliografia